sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sobre o Inferno



Por Augustus Nicodemus Lopes

Eu creio que o inferno existe, mas não tenho o menor prazer ou satisfação secretos ou públicos quanto a este fato.

Eu creio que o inferno é eterno e agradeço a Deus que não me deu condição de entender plenamente o que significa sofrer eternamente, senão eu entraria em crise.

Eu creio que só escaparão de ir para o inferno aqueles que creram em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, o Filho de Deus que veio ao mundo morrer por nossos pecados. Os que nunca ouviram falar de Cristo não são exceção, pois não há inocentes diante de Deus, conforme Paulo ensina em Romanos 1 e 2.

Eu creio que o inferno foi preparado para o diabo e seus anjos, mas não creio que o diabo já esteja lá e muito menos que ele seja o rei do inferno, onde domina e atormenta as almas perdidas. O diabo teme e treme na expectativa daquele dia em que será lançado para sempre no lago de fogo e enxofre.

Eu creio que o Senhor Jesus Cristo veio ao mundo para salvar pecadores do inferno e que Ele se entregou na cruz para isto, mas tenho de reconhecer que a maioria das citações e informações sobre o inferno foi proferida por Ele e não pelo “Deus mau” do Antigo Testamento e nem pelo “intransigente” apóstolo Paulo.

Lamento que tenho pregado pouco sobre o inferno. Lamento que nas vezes que preguei não fui mais convincente. E lamento mais ainda que são poucos os pregadores hoje que estão dispostos a falar deste assunto.

[Aos interessados, seguem as passagens bíblicas que serviram de base para este post: Sal 9.17; Prov 5.5; 9.13–17; 15.24; 23.13-14; Isa 30.33; 33.14; Mat 3.12; 5.29-30; 7.13-14; 8.11-12; 10.28; 13.30, 38–42, 49-50; 16.18; 18.8-9, 34-35; 22.13; 25.28–30, 41, 46; Marcos 9.43-48; Lucas 3.17; 16.23-28; Atos 1.25; 2Tess 1.9; 2Ped 2.4; Judas 6, 23; Apoc 9.1, 2;  11.7;  14.10, 11;  19.20;  20.10, 15;  21.8  2.11]. 

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domingo, 2 de dezembro de 2012

Por Quê Igrejas Presbiterianas pelo Mundo estão Aceitando Pastores Homossexuais?

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Por Augustus Nicodemus Lopes

Duas denominações presbiterianas acabam de decidir no plenário de suas Assembléias Gerais que homossexuais praticantes podem ser pastores nas igrejas delas.

A primeira foi a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (PCUSA). Veja a notícia aqui:

Igreja Presbiteriana dos EUA permite ministros homossexuais

E ontem, foi a vez da Igreja Presbiteriana da Escócia. Veja a notícia aqui:

Church of Scotland votes on gay ministers


Estas resoluções foram tomadas depois de muitos anos de conflitos internos e discussões teológicas. E em ambas as igrejas, o voto passou com uma maioria apertada. Os pastores, presbíteros, diáconos e membros destas denominações que discordam da decisão, e que por muito tempo lutaram para que ela não fosse aprovada, enfrentam agora o dilema de saber qual é a coisa correta a fazer. Com certeza, muitos sairão para outras denominações ou para formar novas igrejas; outros, ainda, permanecerão na esperança de que um dia as coisas mudem.

A pergunta que não quer calar é como igrejas de origem reformada, que um dia aceitaram as confissões de fé históricas e adotaram os lemas da Reforma, especialmente o Sola Scriptura, chegaram a este ponto? Em minha opinião, o que está acontecendo hoje é o resultado lógico e final da conjunção de três fatores: a teologia liberal que foi aceita por estas igrejas, a conseqüente rejeição da autoridade infalível da Bíblia e a adoção dos rumos da sociedade moderna como norma.

O processo pelo qual estas denominações passaram, uma na Europa e outra nos Estados Unidos, é similar. As etapas vencidas são as mesmas. Primeiro, em algum momento de sua história, em meados dos séculos XIX, o método crítico de interpretação da Bíblia passou a ser o método dominante nos seminários e universidades teológicas destas denominações. Boa parte dos pastores formados nestas instituições saíram delas convencidos que a Bíblia contém erros de toda sorte e que reflete, em tudo, o vezo cultural de sua época. Para eles, os relatos bíblicos dos milagres são um reflexo da fé dos judeus e dos primeiros cristãos expresso em linguagem mitológica e lendária (veja aqui um post sobre liberalismo teológico).

Segundo, uma vez que a Bíblia não poderia ser mais considerada como o referencial absoluto em matérias de fé e prática, devido ao seu condicionamento às culturas orientais antigas e patriarcais, estas denominações aos poucos foram adotando as mudanças culturais e a direção da sociedade moderna como referência para suas práticas.

Terceiro, com a erosão da autoridade bíblica e o estabelecimento da cultura moderna como referencial, não tardou para que estas igrejas rejeitassem o ensinamento bíblico de que somente homens cristãos qualificados deveriam exercer a liderança nas igrejas e passaram a ordenar mulheres como pastoras e presbíteras. As passagens bíblicas que impõem restrições ao exercício da autoridade por parte da mulher nas igrejas foram consideradas como sendo a visão patriarcal dos autores bíblicos, e que não cabia mais na sociedade moderna (veja aqui uma matéria deste blog sobre ordenação feminina).

O passo seguinte foi usar o mesmo argumento quanto ao homossexualismo: as passagens bíblicas que tratam as relações homossexuais como desvio do padrão de Deus e, portanto, pecado, foram igualmente rejeitadas como sendo fruto do pensamento retrógrado, machista e preconceituoso dos autores da Bíblia, seguindo a tendência das culturas em que viviam. A igreja cristã moderna, de acordo com este pensamento, vive num novo tempo, onde o homossexualismo é comum e aceito pelas sociedades, inclusive com a aprovação do Estado para a união homossexual e benefícios decorrentes dela.

E o resultado não poderia ser outro. O único obstáculo para que uma igreja que se diz cristã aceite o homossexualismo como uma prática normal é o conceito de que a Bíblia é a Palavra de Deus, inerrante e infalível única regra de fé e prática para o povo de Deus. Uma vez que esta barreira foi derrubada - e a marreta usada para isto sempre é o método crítico e o liberalismo teológico - não há realmente mais limites que sejam defensáveis. Pois mesmo os argumentos não teológicos, como a não procriação em uniões homossexuais e a anormalidade anatômica e fisiológica da sodomia, acabam se mostrando ineficazes diante do relativismo da cultura moderna. E as igrejas que abandonaram a autoridade infalível da Palavra de Deus acabam capitulando aos argumentos culturais.

Nem todos os que adotam o método crítico são favoráveis ao homossexualismo. E nem todos liberais são a favor da homossexualidade. Mas espero que as decisões destas duas igrejas, que têm em comum a adoção deste método e a aceitação do liberalismo teológico, sirvam como reflexão para os que se sentem encantados com o apelo ao academicismo e intelectualismo da hermenêutica e da teologia liberais.

Veja o artigo relacionado:

Gays e Lésbicas praticantes agora podem ser ministros do Evangelho na Igrejas Luterana Americana

Fonte: [ O Tempora, O Mores! ]
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domingo, 14 de outubro de 2012

Enfrentando as Fornalhas da Vida.

Enfrentando as Fornalhas da Vida

Alguma vez em sua vida você provavelmente já se perguntou: “Por que Deus permite que soframos? Por que enfrentamos adversidades e dores?”.
Existem várias respostas. Às vezes a tribulação é a disciplina imposta por Deus. Quando não estamos caminhando com Ele como deveríamos, Ele entra em cena como um pai amoroso para nos proporcionar circunstâncias que foram projetadas para nos levar de volta a Ele. Outras vezes sofremos simplesmente porque vivemos em um mundo cheio de pecado, sofrimento e amargura.
Também pode ser que Deus nos permite sofrer para beneficiar outros que estão ao nosso redor. Em Daniel 3, encontramos três jovens judeus que haviam sido levados cativos para a distante Babilônia, onde suportaram uma tribulação que permitiu a Deus revelar-Se ao reino gentio mais poderoso da terra.

A Acusação

Para compreendermos a história deles, devemos nos lembrar que, no segundo ano do cativeiro de Daniel (603 a.C.), o rei Nabucodonosor teve um sonho. Ele não apenas queria alguém que pudesse interpretar seu sonho, como também exigia que tal indivíduo adivinhasse do que constava aquele sonho. Ninguém havia conseguido o feito até que Daniel e seus três amigos buscaram o Senhor em oração. Então, Daniel disse a Nabucodonosor o que ele havia visto: uma estátua de um homem com uma cabeça de ouro. A estátua significava, em poucas palavras, uma figura do futuro do mundo. Nabucodonosor representava a cabeça de ouro – o Império Babilônio.
A seguir, Daniel revelou e explicou o sonho. Nabucodonosor entendeu parte da abrangência do que aquilo indicava, porque ele declarou: “Certamente, o vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (Dn 2.47). Mesmo assim, ele aparentemente se esqueceu daquele fato, porque vários anos mais tarde sua resposta ao sonho foi erigir uma estátua de aproximadamente 30 metros revestida de ouro e determinar que todos os homens no reino se prostrassem diante dela e a adorassem. Três homens não fizeram isso: os amigos de Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Seus nomes babilônios eram Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Então, os caldeus trouxeram esses homens sob acusações diante do rei. (Daniel não estava entre eles e as Escrituras não dizem nada sobre onde ele estava).
Nabucodonosor perguntou-lhes: “É verdade... que vós não servis a meus deuses, nem adorais a imagem de ouro que levantei?” (Dn 3.14).
O versículo seguinte é o ponto crucial do capítulo: “Se não a adorardes, sereis, no mesmo instante, lançados na fornalha de fogo ardente. E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (v.15). Nesse ponto, Nabucodonosor considerou-se Deus a si mesmo.
Os três responderam:
Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (vv.16-18).
Quando Deus lhe traz problemas e dificuldades, nem sempre é porque você fez alguma coisa errada ou por causa das circunstâncias normais envolvidas em se viver num mundo perdido que está amaldiçoado pelo pecado. Às vezes Deus quer dizer alguma coisa àqueles que estão ao seu redor, e Ele quer usar você para transmitir a mensagem dEle.
Foi isso que Ele fez com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Essa não foi uma experiência agradável para eles. As Escrituras dizem que a fornalha estava quente; e, por causa de sua raiva e de seu orgulho, o rei “ordenou que se acendesse a fornalha sete vezes mais do que se costumava” (v.19). De fato, ela estava tão quente que o fogo instantaneamente destruiu todos os soldados que atiraram os três para dentro da fornalha.

O Desafio

Quando Deus lhe traz problemas e dificuldades, nem sempre é porque você fez alguma coisa errada ou por causa das circunstâncias normais envolvidas em se viver num mundo perdido que está amaldiçoado pelo pecado.
Então, Deus entrou como que em uma disputa com Nabucodonosor. Ele quis deixar bem claro qual era a extensão de Seu poder, soberania, bondade e graça.
É bem possível que algumas coisas que você está enfrentando agora tenham menos a ver com você (embora você vá crescer a partir delas) que com as pessoas ao seu redor. Talvez Deus tenha escolhido você como um veículo para alcançar outros.
Esses homens tinham grande consideração e respeito por Deus, e isso permitia que Deus os usasse. O mundo pode pensar que é grande coisa, mas os crentes consideram a Deus. Isto é, eles honram a Palavra de Deus e os Seus caminhos e O respeitam e O servem. Foi isso que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego fizeram. Nesse ponto, eles foram amarrados e jogados para dentro da fornalha.
Servir a Deus não é algo que vem com a garantia de que sobreviveremos a todas as adversidades e sairemos ilesos. Nem significa que sempre sobreviveremos. Significa que estamos à disposição dEle, e que Ele pode fazer conosco aquilo que desejar. No caso de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Deus lhes deu libertação.
Atônito, Nabucodonosor perguntou: “Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam ao rei: É verdade, ó rei. Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses” (vv. 24-25).

A Escolha

Mas, sabe de uma coisa? Aqueles três homens não tinham nenhuma garantia quando entraram; nem nós temos. Nunca sabemos se o plano de Deus é trazer glória a Seu nome através de nosso martírio ou através de nossa libertação.
Era aí que estava João Batista em Mateus 11. Cerca de dois anos haviam se passado a partir do início do ministério de Jesus, e João foi colocado atrás das grades, provavelmente coçando a cabeça e pensando: “Espere aí! Pensei que eu fosse o precursor do Messias”. Então, ele enviou mensageiros a Jesus, perguntando: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Lc 7.19). As coisas não se encaixavam. Ele pensava que Jesus iria libertar Israel de Roma e estabelecer o Reino Davídico. Entretanto, ali estava ele, o precursor (Lc 1.17; Lc 7.27), na prisão. Logo após esses acontecimentos, ele foi decapitado.
Somos servos do Deus vivo. Isso significa que somos instrumentos para sermos usados por Ele. Estamos à disposição dEle. E devemos pensar sobre nós mesmos, não como porcelana de valor inestimável, mas como copos de papel que Deus pode usar para aquilo que Ele quer realizar.
Somos servos do Deus vivo. Isso significa que somos instrumentos para sermos usados por Ele. Estamos à disposição dEle. E devemos pensar sobre nós mesmos, não como porcelana de valor inestimável, mas como copos de papel que Deus pode usar para aquilo que Ele quer realizar. Você não pode dar mais a Deus do que Ele a você. Deus nunca toma nada que Ele não substitua muitas vezes mais.
Em outras ocasiões, porém, Ele liberta de maneira miraculosa. “Então, se chegou Nabucodonosor à porta da fornalha sobremaneira acesa, falou e disse: Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, servos do Deus Altíssimo, saí e vinde!” (Dn 3.26).
E eles saíram do meio do fogo sem sequer terem sido chamuscados. O fogo não teve efeito algum sobre eles. Os cabelos deles não estavam queimados, suas roupas não estavam danificadas, e o cheiro do fogo não se apegou a eles. Deus havia escolhido protegê-los por intermédio de um anjo do Senhor.
O mundo foi forçado a levar Deus em consideração por causa dos três jovens judeus que resolveram adorar apenas a Ele:
Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus. Portanto, faço um decreto pelo qual todo povo, nação e língua que disser blasfêmia contra o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seja despedaçado, e as suas casas sejam feitas em monturo; porque não há outro deus que possa livrar como este” (vv.28-29).
Às vezes, Deus deseja demonstrar Sua grandeza e poder e está buscando pessoas que estejam dispostas a caminhar com Ele pelo meio da fornalha ardente. Talvez você esteja nessa fornalha agora. Ou talvez você venha a estar daqui a seis meses. Embora aquele possa ser um lugar amedrontador, você precisa se lembrar de que Deus é tão capaz de libertar você da fornalha quanto em meio a ela. A decisão é dEle. O que Ele requer de nós é fé.
Essa experiência foi um dos três principais “eventos de Deus” na vida de Nabucodonosor que fizeram do primeiro rei dos tempos dos gentios um adorador de Javé.
Se você e eu estivermos dispostos a colocar Deus em primeiro lugar, então aqueles que estão ao nosso redor também poderão vê-lO. Eles verão como você confia n’Ele à medida que for passando por dificuldades e eles se maravilharão daquilo que Ele faz em sua vida e por meio de sua vida. (Richard D. Emmons - Israel My Glory - http://www.chamada.com.br)
Richard D. Emmons é professor titular de Bíblia e Doutrina na Universidade Bíblica de Filadélfia e pastor-sênior da GraceWay Bible Church em Hamilton Township, Nova Jersey, EUA.

domingo, 16 de setembro de 2012

PÉROLAS DIÁRIAS


17 de Setembro
"Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder." Lucas 12.49
Quem é Jesus? Ele é o Cordeiro de Deus, o holocausto perfeito, o bom Pastor. Ele é a porta, o caminho para o Pai.
Como foi Jesus? Pedro disse que Ele era puro, imaculado e inocente; Paulo testifica que Jesus não conheceu pecado. Mas o anseio íntimo pelo fogo que deveria arder não foi despertado unicamente pela pureza e inocência de Jesus. Muitos sabem que foram purificados pelo sangue do Salvador e justificados pelo nome do Senhor Jesus. Mas este fato não acende o fogo do Espírito Santo – e assim chegamos a uma outra pergunta importante:
Como viveu Jesus? Em obediência! "...A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz." Aqui já nos aproximamos do mistério do fogo que arde sempre, a revelação da Sua missão: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra e bem quisera que já estivesse a arder." Ele conhece o caminho para isso e diz: "Tenho, porém, um batismo com o qual hei de ser batizado; e quanto me angustio até que o mesmo se realize." Jesus se despiu da Sua glória legítima para que por meio dEle pudesse ser aceso o fogo sobre a terra!

 Extraído do livro "Pérolas Diárias" (de Wim Malgo).

Eu não sei!!!

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por Augustus Nicodemus Lopes

Recentemente li uma crítica feita aos calvinistas que eles costumam escapar de dilemas teológicos resultantes de sua própria lógica recorrendo ao conceito de “mistério”. Ou seja, os calvinistas, depois de se colocarem a si mesmos numa encruzilhada teológica, candidamente confessam que não sabem a resposta para a mesma.

A crítica em particular era sobre a doutrina da predestinação. Segundo a crítica, os calvinistas insistem que Deus decretou tudo que existe, mas quando chega o momento de explicar a existência do mal no mundo, a liberdade humana e a responsabilidade na evangelização, eles simplesmente dizem que não sabem a resposta para os dilemas lógicos criados: se Deus predestinou os que haveriam de ser salvos e condenados, como podemos responsabilizar os que rejeitam a mensagem do Evangelho? Os calvinistas, então, de acordo com a crítica, recorrem ao que é denominado de antinômio, a existência pacífica de duas proposições bíblicas aparentemente contraditórias que não podem ser harmonizadas pela lógica humana.
A verdade é que, além da soberania de Deus, temos outras doutrinas na mesma condição, como a definição clássica da Trindade, mantida não somente pelos calvinistas, mas pelo Cristianismo histórico em geral. Por um lado, ela afirma a existência de um único Deus. Por outro, afirma a existência de três Pessoas que são divinas, sem admitir a existência de três deuses.
Ao longo da história da Igreja vários tentaram resolver logicamente o dilema causado pela afirmação simultânea de duas verdades aparentemente incompatíveis. Quanto ao mistério da Trindade, as soluções invariavelmente correram na direção da negação da divindade de Cristo ou da personalidade e divindade do Espírito Santo; ou ainda, na direção da negação da existência de três Pessoas distintas. Todas essas tentativas sempre foram rechaçadas pela Igreja Cristã por negarem algum dos lados do antinômio.
Um outro exemplo foram as tentativas de resolver a tensão entre as duas naturezas de Cristo. Os gnósticos tendiam a negar a sua humanidade para poder manter a sua divindade. Já arianos, e mais tarde, liberais, negaram a sua divindade para manter a sua humanidade. Os conservadores, por sua vez, insistiram em manter as duas naturezas e confessar que não se pode saber como elas podem coexistir simultânea e plenamente numa única pessoa.
No caso em questão, as tentativas de solucionar o aparente dilema entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana sempre caminharam para a redução e negação da soberania de Deus ou, indo na outra direção, para a anulação da liberdade humana. No primeiro caso, temos os pelagianos e arminianos. No outro, temos os hipercalvinistas, que por suas posições deveriam mais ser chamados de “anticalvinistas”. Mais recentemente, os teólogos relacionais chegaram mesmo a negar a presciência de Deus pensando assim em resguardar a liberdade humana.
Há várias razões pelas quais eu resisto à tentação de descobrir a chave desses enigmas. A primeira e a mais importante é o fato que a Bíblia simplesmente apresenta vários fatos sem explicá-los. Ela afirma que há um Deus e que há três Pessoas que são Deus. Não nos dá nenhuma explicação sobre como isso pode acontecer, mesmo diante da aparente impossibilidade lógica do ponto de vista humano. Os próprios escritores bíblicos, inspirados por Deus, preferiram afirmar essas verdades lado a lado, sem elucidar a relação entre elas. Em seu sermão no dia de Pentecostes, Pedro afirma que a morte de Jesus foi predeterminada por Deus ao mesmo tempo em que responsabiliza os judeus por ela. Não há qualquer preocupação da parte de Pedro com o dilema lógico que ele cria: se Deus predeterminou a morte de Jesus, como se pode responsabilizar os judeus por tê-lo matado? Da mesma forma, Paulo, após tratar deste que é um dos mais famosos casos de antinomínia do Novo Testamento (predestinação e responsabilidade humana), reconhece a realidade de que os juízos de Deus são insondáveis e seus caminhos inescrutáveis (Rm 11.33).
A segunda razão é a natureza de Deus e a revelação que ele fez de si mesmo. Para mim, Deus está acima de nossa possibilidade plena de compreensão. Não estou concordando com os neo-ortodoxos que negam qualquer possibilidade de até se falar sobre Deus. Mas, é verdade que ninguém pode compreender Deus de forma exaustiva, completa e total. Dependemos da revelação que ele fez de si mesmo. Contudo, essa revelação, na natureza e especialmente nas Escrituras, mesmo suficiente, não é exaustiva. Não sendo exaustiva, ela se cala sobre diversos pontos – e entre eles estão o relacionamento lógico entre os pontos que compõem a doutrina da Trindade, da pessoa de Cristo e da soberania de Deus.
A terceira razão é que existe um pressuposto por detrás das tentativas feitas de explicar racionalmente os mistérios bíblicos, pressuposto esse que eu rejeito: que somente é verdadeiro aquilo que podemos entender. Não vou dizer que isso é exclusivamente fruto do Iluminismo do séc. XVII pois antes dele essa tendência já existia. O racionalismo acaba subordinando as Escrituras aos seus cânones. Prefiro o lema de Paulo, “levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Coríntios 10.5). Parece que os racionalistas esquecem que além de limitados em nosso entendimento por sermos criaturas finitas, somos limitados também por nossa pecaminosidade. É claro que mediante a regeneração e a iluminação do Espírito podemos entender salvadoramente aquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. Contudo, não há promessas de que regenerados e iluminados descortinaremos todos os mistérios de Deus. A regeneração e a iluminação não nos tornam iguais a Deus.
Além dos mistérios mencionados, existem outros relacionados com a natureza de Deus e seus caminhos. Diante de todos eles, procuro calar-me onde os escritores bíblicos se calaram, após esgotar toda análise das partes do mistério que foram reveladas. Não estou dizendo que não podemos ponderar sobre o que a Bíblia não fala – mas que o façamos conscientes de que estamos apenas especulando, no bom sentido, e que os resultados dessas especulações não podem ser tomados como dogmas.

Fonte: [ O Tempora, O Mores! ]

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Aos que exultam na Soberba

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Por Francis Schaeffer (1912-1984)

Quando, pois, os gentios que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se; no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho. (2.14-16)

Paulo está passando para a próxima etapa da sua apresentação do plano de salvação divino. Ele já falou sobre os não-judeus, os gentios, o homem sem a Bíblia. Agora ele está preparando o terreno . para falar sobre o homem judeu - o homem com a Bíblia. Lembre-se novamente do que ele disse acerca dos gentios: "A ira de Deus se revela" (1.18). E o ouvinte gentio se pergunta: "Por que eu estou sob a ira de Deus7" E Paulo responde "o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou" (1.19). Até mesmo o homem sem a Bíblia tem uma consciência. Esta é a primeira coisa que o condena. Esta pessoa é ainda um ser moral.

Agora Paulo passa a dizer a mesma coisa sobre os judeus, ou, em termos equivalentes à realidade de hoje, sobre as pessoas com a Bíblia. Eles têm a Bíblia (e, como os gentios, ou as pessoas sem a Bíblia, não deixam de ter uma consciência), mas não vivem de acordo com ela. Realmente, admite Paulo, podemos encontrar muitos gentios (pessoas sem a Bíblia), que vivem bem melhor do que as pessoas com a Bíblia. Ele não está dizendo que estes incrédulos possam viver vidas perfeitas. Nenhum ser humano vive uma vida perfeita. Tudo o que ele está dizendo é que os exemplos relativamente bons destes incrédulos condenam aqueles que tem a Bíblia.

É claro que isto não representa uma desculpa para o homem sem a Bíblia. Ele nunca estará vivendo totalmente de acordo com os padrões que lhe são conhecidos. Mas esse é um motivo a mais para condenação dos judeus, dos homens com a Bíblia. Paulo está simplesmente cortando pela raiz todo e qualquer fundamento que não seja a graça. Você pode sentir isso. Ele está descartando todos aqueles argumentos que as pessoas de todas as eras costumam usar para dizer "não preciso de Salvador algum". Você pode perce¬ber todos estes argumentos sendo demolidos. Alguém poderia di¬zer "olhe só para aqueles incrédulos ali, vivendo vidas muito mais adequadas do que as pessoas com a Bíblia". Mas, como Paulo diz, a bondade dessas pessoas não poderá salvá-las, pois elas nunca estarão vivendo inteiramente de acordo com os princípios por elas mesmas estabelecidos.

... os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se. (2.15b)

Esta é a experiência de todas as pessoas. Todos nós passamos por isso, indo e vindo como balanço de um pêndulo. Perdoamos os outros, dizendo: "Eu acabarei sendo poupado, sou melhor do que os outros", e então, puffi, cometemos algo realmente ruim, submergimos no mar negro da auto-condenação e passamos a nos "acusar" a nós mesmos. E em seguida, quem sabe, vamos tomar um pouco de ar fresco ou uma boa xícara de café ou olhamos para alguém que parece estar em situação ainda pior do que a nossa, e o pêndulo volta para o extremo oposto e voltamos a nos desculpar. "Não sou tão mal quan¬to imaginava. Até que estou me comportando muito bem". E, no momento seguinte, sem qualquer aviso prévio, voltamos a cair no mar negro. Todas as pessoas vivem neste vai-e-vem pendular - desculpando-se... acusando-se... desculpando-se... acusando-se... Encaramos a nossa própria consciência, sentimo-nos acusados; e en¬tão explicamos nossos motivos, e nos sentimos desculpados.

No dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho. (2.16)

É preciso que encaremos o fato de que chegará o dia, posto na história, em que se dará o julgamento. Já vimos isto em 2.5 "Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus". Paulo jamais permite que sua mensagem permaneça no plano da abstração; ele apresenta a aplicação mais concreta e prática possível; e o fato concreto e inevitável é que está chegando o dia, bastante real, posto no espaço e no tempo, posto na história, em que Deus há de julgar o mundo. Ele está dizendo "no dia" - o que não significa necessariamente um dia de vinte e quatro horas - "em que Deus... julgar os segredos dos homens".

"Segredos" devia ser uma palavra assustadora para nós. Deus não julgará apenas as coisas abertas, mas também os segredos. A pessoa sem a Bíblia diz "aquela mulher é imoral ... aquele homem é imoral", e depois acaba praticando as mesmas coisas, muitas vezes à surdina. E não é precisamente assim que as pessoas pensam e vivem? Elas não estão se esforçando de fato para serem morais, elas só estão tentando manter as coisas equilibradas, apontando o dedo para a pessoa que chega a um ponto extremo, mesmo que elas estejam praticando as mesmas coisas secretamente. Elas condenam as outras pelas coi¬sas mais explícitas, as coisas que dão manchete. Mas, nas suas pró¬prias vidas secretas, estão vivendo do mesmo jeito.

Deus julgará não só o que se encontra publicado nas manchetes, mas todas as mais secretas coisas. Toda aquela boa gente. Todos aqueles que atiram pedras. Todos aqueles que escrevem os editoriais.

Mais uma vez é preciso recordar o contexto disso tudo. As pessoas dizem "Por que eu estou sob a ira de Deus? Será que Deus é justo em condenar-me?" E Deus diz-, "você não consegue imaginar um bom motivo para estar sob a minha ira?" "Ó homem", (2.1), olhe bem para você. Será que isso não é-justo (2.2-16)?

O julgamento será realizado por Deus, mas ele também será realizado "por meio de Jesus Cristo" (2.16). Paulo não mencionava Cristo desde 1.16, porque ele estava discutindo o problema do pecado. Mas agora ele o menciona novamente, como sendo o juiz da humanidade. Isso poderia ser uma surpresa. Você certamente já encontrou pessoas, tanto judeus quanto gentios, que dizem "Eu acredito em Deus, só não acredito em Jesus Cristo". Mas a terrível verdade é que, quando ho-mens e mulheres não salvos forem chamados para comparecer diante de Deus para julgamento e o encararem, eles só verão uma dentre as pessoas da Trindade como juiz, e esta será Jesus Cristo. Uma das ex-pressões mais imponentes de toda a Bíblia é a "ira do Cordeiro" (Ap 6.16). Em Romanos, Paulo fala da ira de Deus, mas em Apocalipse João se refere à ira do Cordeiro.

A pessoa da Trindade que veio e muito sofreu para que as pessoas não tivessem mais de ser julgadas, será o seu juiz. A pessoa que tenta chegar-se a Deus sem passar por Jesus Cristo terá que estar face-a-face com Jesus no dia do julgamento. Cer¬tamente Jesus foi "tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hb 4.15); portanto, ele sabe muito bem o que é a tentação e ele compreende nossa humanidade. Mas isso não ameniza em nada a terrível verdade de que ele nos julgará. Jesus, o Salvador do mundo, será igualmente o seu juiz. "Não me envergonho do evangelho de Cristo", diz Paulo. Mas agora ele acrescenta-. Cristo é também o juiz. Não apenas não há outra forma de se chegar a Deus, a não ser por meio de Jesus Cristo, como o próprio Cristo declara (Jo 14.6), mas também que todos os que tentam, de alguma forma, pular esta etapa, não conseguirão, pois Jesus Cristo estará parado bem ali, na condição de juiz. Jesus diz "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Mas quando alguém diz: "Não quero ter nada a ver com você: posso muito bem comparecer diante de Deus diretamente, com as minhas próprias pernas, sem mediador, sem qualquer Messias sofredor", isso seria como se estivesse tentando ascender diretamente aos céus, passando por cima desse Jesus Cristo. Acontece que não conseguirá fazer isso, porque lá está Jesus Cristo, o juiz. Ninguém que já tenha passado por essa vida foi capaz de escapar do relacionamento com Jesus Cristo.

De duas, uma: ou este relacionamento será o da salvação, conforme descrito por Paulo em 1.16, ou então será o relacionamento que ele descreve em 2.16-0 relacionamento de uma pessoa condenada e o seu juiz.

O profeta Miquéias disse "sofrerei a ira do SENHOR, porque pequei contra ele" (Mq 7.9). Jesus suportou a indignação do nosso pecado na cruz. Mas, se falhamos em aceitar isso, só nos resta o outro lado da equação - teremos de suportar a indignação do. Senhor por nós mesmos.

Paulo tem (alado de os gentios estarem sob a ira de Deus (1.18— 2.16), e nestes poucos últimos versículos ele começa a falar de os judeus estarem igualmente sob a ira de Deus (2.9-16). Enquanto ele se prepara para enfocar a ira de Deus contra os judeus (2.17— 3.8), devemos recordar a passagem de Sofonias "naquele dia não te envergonharás de nenhuma das tuas obras, com que te rebelaste contra mim; então tirarei do meio de ti os que exultam na sua soberba, e tu nunca mais te ensoberbecerás no meu santo monte" (3.11). Deus, por meio de Sofonias, disse a Israel que chegaria um dia em que não estariam mais orgulhosos simplesmente porque a sua montanha sagrada, Jerusalém, estava no seu meio. Todos os que se regozijam por razões como esta serão julgados do mesmo jeito que todo mundo. Mas este aviso não se aplica somente aos judeus ou às pessoas dos tempos bíblicos. Pensando novamente no paralelo com os nossos tempos modernos - as pessoas com a Bíblia e as pessoas sem a Bíblia - as pessoas com a Bíblia e a igreja não devem jamais ser arrogantes a ponto de olhar com ar de superioridade para aqueles que não têm acesso a estas coisas. Até mesmo as pessoas de hoje que se gabam por não acreditar em absolutamente nada certamente olham para outras pessoas com ar de superioridade e as condenam. Mas Paulo está nos mostrando que o pecado é universal. Todos nós nos apresentamos condenáveis diante de Deus. Nenhum de nós pode ser arrogante por causa de alguma "montanha sagrada" que possamos reivindicar. Qualquer coisa que seja um motivo para nos tornar mais soberbos não passará de mais uma razão para julgamento ainda maior.

Fonte: [ Josemar Bessa ]
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domingo, 5 de agosto de 2012

O Amor limitado de Deus

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Por Fabio Correia

O amor de Deus não é tão "grande e ilimitado" assim como muitos pensam. Se Ele quisesse salvar a todos, poderia? Obviamente que sim. Afinal, Deus é Soberano. Ele pode absolutamente tudo que quiser. Por que não salva, então? Seria porque algumas pessoas são incrédulas? Porque algumas pessoas têm um coração duríssimo? Ou ainda não salva porque outras pessoas são blasfemas e não querem saber Dele?

Evidentemente que é de se esperar que pessoas de coração tão duros e ímpios e que rejeitam a bondade da qual seriam alvo de forma tão acintosa, sejam excluídas ou recebem algum tipo de punição ou ainda que deixem de ser alvo desse amor que seria disponibilizado para elas. Geralmente agimos assim. Somos naturalmente vingativos. Somente as pessoas "merecedoras" se tornam alvo do nosso amor. Mas, com Deus não deveria ser diferente? Ele não poderia, e até "deveria", relevar os desmandos e desvios de todas as pessoas, e, assim, salvar a todos indistintamente? É isso que ocorre? Todos serão salvos?

Muitos universalistas acreditam que sim. Acreditam que, por Sua misericórdia e bondade, Deus aceitará a todos e não deixará que nenhum se perca, independentemente de exercerem fé ou não. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu por todos sem exceção".

Apesar de ser o universalismo um pensamento muito simpático e favorável a nós, transgressores inveterados da Lei de Deus, ele foi considerado como herético no concílio de Constantinopla em 543 d.C. Apesar disso, é defendido pela maioria dos teólogos liberais e seus simpatizantes. Ainda que alguns textos bíblicos pareçam sugerir tal expiação universal, entendidos, obviamente, fora do contexto geral das Escrituras, essa ideia é realmente insustentável. Afinal, a bíblia fala da existência de réprobos quanto à fé, isto é, de pessoas que não serão salvas e que terão o inferno como destino e castigo eterno.

Outra corrente teológica que reflete sobre a extensão do amor de Deus é a corrente Arminiana. Essa evolução do Pelagianismo, diferentemente do universalismo, entende que, realmente, nem todos serão salvos necessariamente; porém, todos poderão ser salvos, se quiserem. O problema é que muitos não querem. Para eles, a salvação é um grande "self-service" de possibilidades. Ou seja, Jesus morreu não para salvar efetivamente, mas para possibilitar a salvação de quem quiser ser salvo. Ele fez a parte Dele, cabe ao homem agora servir-se e apropriar-se dessa salvação através da sua fé. O homem, nesse casso, é agente completamente ativo na sua própria salvação. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu por todos que quiserem ser salvos".

Um dos textos favoritos dos arminianos é João 3:16, que diz: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça mas tenha a vida eterna".

Curiosamente os arminianos alternam seu entendimento em relação à extensão do amor de Deus entre uma rápida e discreta passagem pelo universalismo e a limitação "camuflada" desse amor, muito embora não admitam abertamente nenhum nem outro.

Por exemplo, pela expressão do texto acima, "Deus amou o mundo", eles costumam entender que é um amor extensivo ao mundo inteiro, realmente. Isto é, a todas as pessoas. Porém, se perguntarmos a um bom arminiano se todos serão "necessariamente" salvos, dirá que não. Por outro lado, a expressão no mesmo texto acima "todo aquele que crê" é altamente limitadora. Porém, se da mesma forma, perguntarmos a um bom arminiano se Jesus morreu apenas por alguns, eles negarão peremptoriamente.

Apesar disso, não há como negar. Na visão arminiana, ainda que isso gere algum tipo de desconforto quando dito abertamente, o amor de Deus é limitado. E quem põe limite à ação extensiva do amor de Deus? O próprio homem, que decide não crer. É como se o homem sentenciasse soberanamente: "Deus, seu amor pode chegar até uma casa antes da minha, no meu vizinho; ele não deve chegar até a minha casa porque eu não permito; porque eu não quero". E Deus, na visão arminiana, obviamente, obedece ou ainda, como eles preferem dizer, respeita essa vontade do homem. 

Ora, parece claro que se o amor de Deus fosse "ilimitado e irrestrito" como, muitas vezes, supõem os próprios arminianos, deveria salvar até mesmo aquele que decide não querer crer.

Mas há ainda um terceiro grupo que se aventura a refletir séria e profundamento sobre o amor de Deus. São os Calvinistas. Esses, diferentemente dos universalistas e dos arminianos, defendem abertamente que o amor salvífico de Deus é limitado, extensivo e direcionado apenas a um grupo restrito de Eleitos. Sendo assim, admitem, sem o menor constrangimento, que os que "não são salvos" não o são porque o próprio Deus decidiu soberanamente que não seriam salvos e não porque simplesmente não quiseram crer. Ou seja, Deus decidiu eternamente tirar apenas alguns da perdição; o que pressupõe estarem todos nessa situação. Por outro lado, admitem que  não há nada de diferente na natureza daqueles que serão salvos, em relação aos não salvos. Ou seja, os chamados "eleitos de Deus" não são intrinsecamente melhores que os não eleitos. Pelo contrário, todos são igualmente merecedores da ira de Deus, por conta de sua queda em Adão. Estando todos caídos e mortos, espiritualmente falando, Deus, pela sua Graça, que por definição é fazer um favor a quem não merece, decide salvar alguns e derramar sobre esses - mas somente sobre esses - seu "infinito e ilimitado" amor salvífico, a ponto de sacrificar seu próprio Filho Jesus, exclusivamente por eles.  Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu apenas pelos seus eleitos". 

Um dos principais e mais polêmicos pontos da teologia Calvinista, geralmente sintetizada em cinco pontos, versa exatamente sobre essa questão. Sobre a "Expiação Limita". Limitada não no poder e importância, e, sim, na extensão e aplicabilidade dessa expiação. Esse ponto ensina de forma clara e aberta que Jesus não morreu por todos. Porque se Ele tivesse morrido por todos sem exceção, todos deveriam, necessariamente, receber a salvação, sob pena de não ter sido um sacrifício perfeito e eficaz. Ensina que quando Jesus subiu à cruz, sabia exatamente, por decreto e não simplesmente por presciência, por quem estava morrendo e sendo oferecido em sacrifício: tão somente por aqueles que foram predestinados por Deus, para a salvação, desde a eternidade. Segundo essa visão, nenhuma gota de sangue do salvador se perdeu. Ou seja, todos pelos quais Cristo morreu serão, indubitável e necessariamente, salvos eternamente, tendo tido seus corações transformados e regenerados para quererem e depois exercerem fé salvífica no sacrifício de Cristo

Na próxima postagem estaremos abordando de forma mais detalhada esse terceiro ponto do Calvinismo, a "Expiação Limitada". Aguardem.