terça-feira, 3 de maio de 2011

Por que a graça é de graça?




Um apóstolo explicaria a reação de Deus em termos mais analíticos: “Mas onde o pecado abundou, superabundou a graça”. Paulo sabia melhor do que ninguém que essa graça não é merecida, ela vem da iniciativa de Deus, e não da nossa. Jogado ao chão no caminho para Damasco, Paulo nunca se recuperou do impacto da graça: a palavra sempre aparece o mais tardar na segunda frase de cada uma de suas cartas. Como Frederick Buechner diz: “A graça é o melhor que ele pode desejar-lhes porque a graça é o melhor que ele sempre recebeu”.

Paulo repetia sempre a mesma coisa insistindo na graça porque sabia o que poderia acontecer se nós crêssemos que merecemos o amor de Deus. Nos momentos de crise, quando falhássemos complemente com Deus, ou quando por qualquer motivo não nos sentíssemos amados, ficaríamos em terreno inseguro. Teríamos medo de que Deus pudesse parar de nos amar quando descobrisse a verdade a nosso respeito. Paulo — “o principal dos pecadores”, como ele mesmo se intitulou uma vez — sabia, sem sombra de dúvida, que Deus ama as pessoas pelo que Ele é, e não pelo que somos.

Consciente do aparente escândalo da graça, Paulo esforçou-se para explicar como Deus fez a paz com os seres humanos. A graça nos desconcerta porque vai contra a intuição que todos têm de que, diante da injustiça, algum preço tem de ser pago. Um homicida não pode simplesmente ficar livre. Alguém que abusa de crianças não pode desvencilhar-se dizendo: “Eu fiquei com vontade de fazer isso”. Antecipando-se a tais objeções, Paulo destacou que um preço foi pago — pelo próprio Deus. Ele desistiu do seu próprio Filho, Jesus Cristo, para não desistir da humanidade.

Como na festa de Babette, a graça não custa nada para os beneficiários, mas tudo para o doador. A graça de Deus não é uma exibição que o vovô faz de sua “bondade”, pois custou o exorbitante preço do Calvário. “Há apenas uma única lei real — a lei do universo”, disse Dorothy Sayers. “Ela pode ser cumprida por meio do juízo ou por meio da graça, mas tem de ser cumprida de um jeito ou de outro.” Aceitando o juízo em seu próprio corpo, Jesus cumpriu a lei, e Deus encontrou um meio de perdoar.

No filme The Last Emperor [O Último Imperador], a criança ungida como o último imperador da China vive uma vida mágica de luxo com mil eunucos à sua disposição para servi-la. “O que acontece quando você faz uma coisa errada?”, pergunta o irmão. “Quando eu faço uma coisa errada, outra pessoa é castigada”, o imperador-menino responde. Para demonstrar o que estava falando, ele quebra um jarro e um dos servos é espancado. Na teologia cristã, Jesus inverteu esse padrão antigo: quando os servos erraram, o Rei foi punido. A graça é gratuita apenas porque o próprio doador assumiu o preço.
Philip Yancey, em “Maravilhosa Graça”, editora Vida
Fonte: http://amandoaoproximo.blogspot.com

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