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Por Fabio Correia
O
amor de Deus não é tão "grande e ilimitado" assim como muitos pensam.
Se Ele quisesse salvar a todos, poderia? Obviamente que sim. Afinal,
Deus é Soberano. Ele pode absolutamente tudo que quiser. Por que não
salva, então? Seria porque algumas pessoas são incrédulas? Porque
algumas pessoas têm um coração duríssimo? Ou ainda não salva porque
outras pessoas são blasfemas e não querem saber Dele?
Evidentemente
que é de se esperar que pessoas de coração tão duros e ímpios e que
rejeitam a bondade da qual seriam alvo de forma tão acintosa, sejam
excluídas ou recebem algum tipo de punição ou ainda que deixem de ser
alvo desse amor que seria disponibilizado para elas. Geralmente agimos
assim. Somos naturalmente vingativos. Somente as pessoas "merecedoras"
se tornam alvo do nosso amor. Mas, com Deus não deveria ser diferente?
Ele não poderia, e até "deveria", relevar os desmandos e desvios de
todas as pessoas, e, assim, salvar a todos indistintamente? É isso que
ocorre? Todos serão salvos?
Muitos universalistas
acreditam que sim. Acreditam que, por Sua misericórdia e bondade, Deus
aceitará a todos e não deixará que nenhum se perca, independentemente
de exercerem fé ou não. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu por todos sem exceção".
Apesar
de ser o universalismo um pensamento muito simpático e favorável a
nós, transgressores inveterados da Lei de Deus, ele foi considerado
como herético no concílio de Constantinopla em 543 d.C. Apesar disso, é
defendido pela maioria dos teólogos liberais e seus simpatizantes.
Ainda que alguns textos bíblicos pareçam sugerir tal expiação
universal, entendidos, obviamente, fora do contexto geral das
Escrituras, essa ideia é realmente insustentável. Afinal, a bíblia fala
da existência de réprobos quanto à fé, isto é, de pessoas que não
serão salvas e que terão o inferno como destino e castigo eterno.
Outra corrente teológica que reflete sobre a extensão do amor de Deus é a corrente Arminiana. Essa
evolução do Pelagianismo, diferentemente do universalismo, entende
que, realmente, nem todos serão salvos necessariamente; porém, todos
poderão ser salvos, se quiserem. O problema é que muitos não querem.
Para eles, a salvação é um grande "self-service" de possibilidades. Ou
seja, Jesus morreu não para salvar efetivamente, mas para possibilitar a
salvação de quem quiser ser salvo. Ele fez a parte Dele, cabe ao homem
agora servir-se e apropriar-se dessa salvação através da sua fé. O
homem, nesse casso, é agente completamente ativo na sua própria
salvação. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu por todos que quiserem ser salvos".
Um
dos textos favoritos dos arminianos é João 3:16, que diz: "Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo
aquele que Nele crê não pereça mas tenha a vida eterna".
Curiosamente
os arminianos alternam seu entendimento em relação à extensão do amor
de Deus entre uma rápida e discreta passagem pelo universalismo e a
limitação "camuflada" desse amor, muito embora não admitam abertamente
nenhum nem outro.
Por
exemplo, pela expressão do texto acima, "Deus amou o mundo", eles
costumam entender que é um amor extensivo ao mundo inteiro, realmente.
Isto é, a todas as pessoas. Porém, se perguntarmos a um bom arminiano
se todos serão "necessariamente" salvos, dirá que não. Por outro lado, a
expressão no mesmo texto acima "todo aquele que crê" é altamente
limitadora. Porém, se da mesma forma, perguntarmos a um bom arminiano se Jesus morreu apenas por alguns, eles negarão peremptoriamente.
Apesar
disso, não há como negar. Na visão arminiana, ainda que isso gere
algum tipo de desconforto quando dito abertamente, o amor de Deus é
limitado. E quem põe limite à ação extensiva do amor de Deus? O próprio homem, que decide não crer.
É como se o homem sentenciasse soberanamente: "Deus, seu amor pode
chegar até uma casa antes da minha, no meu vizinho; ele não deve chegar
até a minha casa porque eu não permito; porque eu não quero". E Deus,
na visão arminiana, obviamente, obedece ou ainda, como eles preferem
dizer, respeita essa vontade do homem.
Ora,
parece claro que se o amor de Deus fosse "ilimitado e irrestrito"
como, muitas vezes, supõem os próprios arminianos, deveria salvar até
mesmo aquele que decide não querer crer.
Mas há ainda um terceiro grupo que se aventura a refletir séria e profundamento sobre o amor de Deus. São os Calvinistas.
Esses, diferentemente dos universalistas e dos arminianos, defendem
abertamente que o amor salvífico de Deus é limitado, extensivo e
direcionado apenas a um grupo restrito de Eleitos. Sendo assim,
admitem, sem o menor constrangimento, que os que "não são salvos" não o
são porque o próprio Deus decidiu soberanamente que não seriam salvos e
não porque simplesmente não quiseram crer. Ou seja, Deus decidiu
eternamente tirar apenas alguns da perdição; o que pressupõe estarem
todos nessa situação. Por outro lado, admitem que não há nada de
diferente na natureza daqueles que serão salvos, em relação aos não
salvos. Ou seja, os chamados "eleitos de Deus" não são intrinsecamente
melhores que os não eleitos. Pelo contrário, todos são igualmente
merecedores da ira de Deus, por conta de sua queda em Adão. Estando
todos caídos e mortos, espiritualmente falando, Deus, pela sua Graça,
que por definição é fazer um favor a quem não merece, decide salvar
alguns e derramar sobre esses - mas somente sobre esses - seu "infinito e ilimitado" amor salvífico, a ponto de sacrificar seu próprio Filho Jesus, exclusivamente por eles. Poderíamos resumir esse pensamento na frase "Jesus morreu apenas pelos seus eleitos".
Um
dos principais e mais polêmicos pontos da teologia Calvinista,
geralmente sintetizada em cinco pontos, versa exatamente sobre essa
questão. Sobre a "Expiação Limita". Limitada não no poder e importância,
e, sim, na extensão e aplicabilidade dessa expiação. Esse ponto ensina
de forma clara e aberta que Jesus não morreu por todos. Porque se Ele
tivesse morrido por todos sem exceção, todos deveriam,
necessariamente, receber a salvação, sob pena de não ter sido um
sacrifício perfeito e eficaz. Ensina que quando Jesus subiu à cruz,
sabia exatamente, por decreto e não simplesmente por presciência, por
quem estava morrendo e sendo oferecido em sacrifício: tão somente por
aqueles que foram predestinados por Deus, para a salvação, desde a
eternidade. Segundo essa visão, nenhuma gota de sangue do salvador se
perdeu. Ou seja, todos pelos quais Cristo morreu serão, indubitável e
necessariamente, salvos eternamente, tendo tido seus corações
transformados e regenerados para quererem e depois exercerem fé
salvífica no sacrifício de Cristo
Na
próxima postagem estaremos abordando de forma mais detalhada esse
terceiro ponto do Calvinismo, a "Expiação Limitada". Aguardem.
Fonte: Filosofia Calvinista
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